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Vídeo machista na Copa reacende discussão sobre assédio sexual

Publicado em 21/06/2018 Editoria: Florianópolis Comente!


Protesto do Movimento 8M em Florianópolis / Foto de arquivo: Samantha Sant'Ana

Protesto do Movimento 8M em Florianópolis / Foto de arquivo: Samantha Sant'Ana

O caso do grupo de torcedores do Brasil que desrespeitou uma mulher na cidade de Moscou, na Rússia, país sede da Copa deste ano, repercutiu em todo o mundo. A surpresa desagradável que várias pessoas tiveram ao ver o comportamento machista retratado no vídeo, talvez fosse maior se ele não fosse tão comum às mulheres brasileiras. O vídeo foi gravado na Rússia, mas ele é literalmente reproduzido todos os dias.

Uma pesquisa do instituto Datafolha, divulgada no final de 2017 revelou que quatro em cada dez brasileiras (42%) já sofreram assédio sexual no Brasil. Entre adolescentes e jovens, o número é ainda mais: 56% já foram assediadas nas ruas, transporte público, no trabalho, na escola ou faculdade e até em casa. As mulheres asiáticas (49%), negras (46%) e pardas (45%) são as que mais sofrem assédio. Seguidas das mulheres brancas (40%) e indígenas (34%).

Os números compilados podem estar subestimados, isso porque esse registro vai depender inclusive da própria vítima, que por vezes não consegue identificar a violência. Como se ela fosse tão comum a ponto de não ser considerada como algo a se combater. No caso da mulher russa que aparece no vídeo, por conta da diferença de idioma, ela de fato, não fazia ideia de que ali, ela era vítima.

Junte isso ao medo de julgamento que várias mulheres enfrentam ou não, já que muitas acabam se calando, e fica fácil imaginar que a quantidade de atingidas pode ser ainda maior.

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A própria tipificação da violência no Código Penal não abarca todas possibilidades. Matéria produzida pelo portal de notícias OCP News, explica que “a única violência que se enquadra no tipo penal “assédio sexual” é quando a circunstância envolve hierarquia e a condição de ascendência do agressor para obter vantagem sexual”. Se o ato ocorre sem essas especificações, ele ainda pode ser denunciado e enquadrado em outros tipos de penalidades.

Na capital, denúncias coletivas de assédio e protestos contra esse tipo de violência também ocorreram na Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Nesta, segundo informações do colunista Fábio Gadotti, cinco estudantes relataram à polícia terem sido importunadas pelo mesmo homem. O que motivou a fixação de cartazes de protestos e alertas em pontos de ônibus em abril desse ano.

Na primeira instituição, um professor foi acusado por várias alunas que relatarem que ele se aproveitava do cargo de magistrado para intimidar e induzir proximidade sexual. As investigações foram encerradas e na tarde dessa quarta-feira (20), a Câmara de Vereadores de Florianópolis aprovou uma moção de repúdio ao delegado Paulo Henrique de Deus. De acordo com a moção, o agente público tipificou dez casos de assédio sexual cometidos por um professor da Udesc como "perturbação da tranquilidade" por não enxergar uma relação de hierarquia entre o professor e as alunas.

"Se não há relação de poder entre um professor e suas bolsistas, que são cotistas, não sei mais o que é relação de poder. Esse é um caso óbvio de misoginia institucional. A aprovação é muito simbólica" disse a vereadora Carla Ayres (PT) no Plenário.

A Udesc abriu uma sindicância para investigar a conduta do professor que está afastado desde março, quando as denúncias começaram. O afastamento ocorreu por conta da apresentação de atestado médico, que foi renovado na última semana. A Udesc emitiu nota oficial no dia 6 de junho, onde explicou que a investigação interna ainda não foi concluída.

O assédio de todo dia

Na semana passada, ocorreu audiência pública sobre o direito das mulheres à cidade, promovida pelas comissões de Defesa dos Direitos da Mulher; e de Desenvolvimento Urbano da Câmara Federal. Na reunião, foi discutida a criação de vagões exclusivos no metrô para mulheres, como vem ocorrendo em diversas capitais brasileiras. A medida divide opiniões de feministas, mas é consenso que a solução para o problema do assédio no transporte público deve ir além disso.

A jornalista Flavia Gianini, organizadora do ato “Então eu grito”, destacou pesquisa que indica que 92% das usuárias de metrô são favoráveis ao “vagão rosa”, contudo, 88% o consideram insuficiente para resolver o problema. 

Machismo e Racismo

A arquiteta e urbanista Joice Berth ressaltou durante a audiência que o machismo e o racismo são parte da construção e da formação das cidades brasileiras. “A gente tem na cidade a lógica da casa grande e senzala, com áreas nobres, espaços maioritariamente brancos, e as áreas de periferia e favelas, com a negritude em massa morando nesses espaços”, disse.

Segundo ela, as mulheres negras têm a cidadania mutilada, por não vivenciarem a cidade da maneira que merecem. “A gente nem cogita 3h da manhã, numa noite de verão, ir tomar um sorvete”, citou, destacando o risco de todas as formas de violência. “A gente se priva de uma série de coisas na cidade, deixar de fazer coisas, deixar de frequentar lugares”, completou. Isso, de acordo com a arquiteta, leva muitas vezes ao isolamento das mulheres e à falta de confiança em andar sozinha, afetando sua autonomia.

“A mulher produz a cidade, e não usufrui o direito à cidade”, disse a professora Terezinha Gonzaga, do Centro Universitário de Votuporanga (SP). Segundo ela, a exclusão tem sexo, raça/etnia, classe social e orientação sexual. Ela salientou que as mulheres negras em sua maioria estão nas favelas, são o maior número de analfabetas, fazem o trabalho doméstico, ganham os piores salários e assistem diariamente à execução de seus filhos. “A violência de gênero e o feminicídio aumentam neste segmento da população”, acrescentou.

 

› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br) com informações da Agência Senado

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