Antes de iniciar, gostaria de te contar como eu escrevi este texto.
Sentei pela manhã e comecei a especular sobre a história do jazz: o que vou escrever?
Que linguagem vou usar?
Enfim! No período da tarde, recebi duas visitas inusitadas. Dois grandes músicos e amigos: Edson de Paula – trompetista – e Jackson Carlos de Freitas – guitarrista – ambos blumenauenses. Eles vieram sem avisar, só chegaram. Foi uma bela prosa! Conversando com eles, resolvi incluir algumas das nossas reflexões nesta edição com o nome Notas de Café.
A ideia é você participar do nosso café da tarde! Vamos lá!
Na segunda edição da coluna Clube do Jazz vamos iniciar uma espécie de temporada, ou documentário, talvez série, bem, como você achar melhor chamar. Pretendemos, de maneira simples, mostrar a história dos principais gêneros de jazz existentes. As próximas edições serão dedicadas a esse fim, escritas, não só por mim, mas por artistas relevantes do nosso estado.
Será Jazz!
New Orleans
Existe um belo documentário/filme no Youtube, produzido por Ken Burns, intitulado The History of Jazz, lançado no ano de 2000 – link no final do texto – onde o maravilhoso trompetista de jazz Wynton Learson Marsalis, nascido na cidade de New Orleans sabiamente comenta: “O jazz é uma celebração da vida. Da vida humana, todo seu alcance. Seu absurdo, sua ignorância, sua grandeza, sua inteligência, sua sexualidade, sua profundidade. Ele lida com ela. No todo... Ela lida com isso”. (Minha tradução). O que Marsalis diz reflete diretamente no que passa na cabeça de um jazzista: liberdade. Palavra que poderia tranquilamente substituir o nome do gênero: eu toco jazz, para, eu toco liberdade.
O jazz cresceu em vários lugares, mas nasceu na cidade de New Orleans no Delta do Mississippi no estado de Louisiana. No início do século XIX era a cidade mais cosmopolita e musical do país, com uma pujante imigração de gente todos os cantos do mundo. Mesmo que os Estados Unidos já tinham declarado que todos os homens eram iguais, New Orleans ainda era o um centro de intensa comercialização de escravos.
Improvisação
Era necessário improvisar para ser escravo nessa época. Desde o ato de se comunicar, por não saber falar o inglês, até os alimentos diferentes, enfim, um sistema totalmente novo, onde se você não improvisasse, teria sérios problemas. Foi nesta esfera que o jazz nasceu. A improvisação jazzística virou uma linguagem com vários sotaques. Os músicos conversam no palco, com eles mesmos, com a plateia, com o universo, enfim, você diz, eu respondo, etc.
Notas de Café
Por Jackson Carlos de Freitas
Se o dia fosse a forma de um standard de jazz, que de certa forma é, a cada segundos e minutos, viveríamos o livre arbítrio, a dádiva da improvisação. Através das escolhas, constroem-se caminhos harmônicos que pulsam em melodias do dia a dia.
Escravos Músicos
Alguns escravos podiam estudar música. Alguns vindos das igrejas com seus Negro Spirituals, outros por ter estima de seus senhorios, de descendência francesa ou espanhola. Muitos estudavam música erudita, outros participavam de encontros musicais aos domingos, regados de percussão africana, caribenha, enfim, uma verdadeira mistura, tudo com muita improvisação.
Notas de Café
Por Edson de Paula
É incrível como a música tem o poder de criar canais de comunicação. Uma simples escala musical pode ser interpretada em todos os idiomas, gerando sensações universais. A atmosfera do improviso é única, singular, nunca se repetirá, todavia na mente de quem toca e é tocado se torna eterna.
Influência da Música Erudita Francesa e Espanhola
É inquestionável a influência que a música erudita francesa e espanhola teve no jazz. Primeiramente, pela origem dos senhores de escravos, que ouviam este repertório nas suas casa. Outro ponto, é a maneira que esse tipo de música é tocada. A música erudita francesa e espanhola geralmente é escrita de uma forma e lida/executada de outra. As colcheias – figuras rítmicas de uma partitura – são executadas de uma maneira mais swingada. Isso influenciou os escravos a cada vez mais “swingar” a sua música, o seu jazz.
Na próxima edição continuaremos a te contar esta história.
Até jazz.
Link do documentário The History of Jazz:
https://www.youtube.com/results?search_query=a+hist%C3%B3ria+DO+Jazz
Agenda
Neste fim de semana, a partir do dia 09 de outubro, o Clube do Jazz de Santa Catarina terá uma programação extensa de apresentações na Serra Catarinense.
Acompanhe a agenda no nosso instagram: @clubedojazzsc.
Carlos Schrubbe
Carlos Schrubbe é Professor e pesquisador na área de Música. Formado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), é diretor executivo do Vila EnCantos Produções e ativista cultural em Blumenau, Santa Catarina. Foi diretor de cultura da Fundação Cultural de Blumenau de 2014 a 2016. Schrubbe iniciou os estudos de violão aos seis anos de idade, trabalhou por dois anos como professor na Escola de Música do Teatro Carlos Gomes. Foi professor e diretor do Centro Cultural da Vila Itoupava, onde aplicou projetos educacionais de música, dança e teatro em um espaço museológico. Em 2014, foi reconhecido, pela Academia Catarinense de Letras e Artes, como Personalidade Musical do Ano, no estado de Santa Catarina. Hoje, além da atividade empresarial, atua como guitarrista do grupo Vila Bossa Jazz, é barítono no coro de câmara Vocal Consort Blumenauensis e se dedica à pesquisa e à performance bem orientada dos períodos barroco e clássico ao violão, fundindo os resultados nas execuções de jazz.
Maiores informações contato instagram: @clubedojazzsc
› FONTE: Floripa News (www.floripanews.com.br)