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Recálculo da OMS ameniza cenário da hanseníase no Brasil

Publicado em 13/12/2016 Editoria: Saúde Comente!


OMS tira 3 mil pacientes, que abandonaram o tratamento, do cálculo de prevalência da doença no Brasil. País é o 2° no ranking mundial da hanseníase - atrás da Índia

O Brasil ainda é o 2° país em número absoluto de casos de hanseníase, atrás apenas da Índia. Dos 213.899 casos diagnosticados no mundo em 2014, cerca de 30 mil foram em território brasileiro. Em 2015, o Brasil foi responsável por aproximadamente 90% dos casos de hanseníase nas Américas.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) preconiza taxa de prevalência para hanseníase de até 1 caso para 10 mil habitantes (número de doentes em tratamento) para considerar a doença controlada. Em 2014, o coeficiente nacional era de 1,27 casos para 10 mil habitantes. Mas, em 2015, caiu para 1,01, preocupando a SBH.

O presidente da Sociedade Brasileira de Hansenologia (SBH), Marco Andrey Cipriani Frade, alerta: “A baixa prevalência foi alcançada apenas por um manejo operacional, tal como orientado pela OMS. Foram retirados do cálculo todos os pacientes que abandonaram o tratamento – um número aproximado de 3.000 doentes –, o que aumenta nossa preocupação quanto às possibilidades de resistência bacteriana e também aumento dos casos de reações imunológicas graves nos nervos com consequentes incapacidades”.

Segundo o médico, o mesmo critério pode ter sido usado, por exemplo, em Ribeirão Preto (SP), município que apresentou prevalência de 1,67 em 2014 e queda para 0,9 em 2015.  “Nenhuma doença crônica como hanseníase, que leva de 5 a 10 anos para se manifestar, tem sua prevalência caindo mais de 10% ao ano”, explica.

Hanseníase em regiões brasileiras

A SBH alerta para os números preocupantes em várias regiões brasileiras. Roraima, Pará, Mato Grosso do Sul, Maranhão e Tocantins têm índices maiores que o dobro do que é preconizado pela OMS. Já o Mato Grosso alcança índice de 10,19 – aproximadamente 10 vezes mais.

A SBH chama a atenção para a “grande subnotificação de casos” no Brasil. “Há uma endemia oculta, podendo chegar a três vezes mais que o encontrado”, ressalta Cipriani Frade.

Na região de Ribeirão Preto, com prevalência oficial ainda maior que 1 caso para cada 10 mil habitantes, há municípios que apresentavam taxa oficial de prevalência menor que um. Porém, após meses de ações de busca ativa, a taxa cresceu oito vezes em 2015 e, provavelmente, mais de vinte vezes em 2016, tornando evidente a endemia oculta anunciada pela SBH.

Crianças com hanseníase

7% a 8% dos casos novos diagnosticados no Brasil são em crianças menores que 15 anos. “Isso ratifica o fato de termos uma endemia oculta e que teremos hanseníase ainda por muito tempo no país”, diz o presidente da SBH.

Embora seja uma doença vinculada às situações de pobreza, principalmente pelo viver em aglomerados, facilitando a transmissão entre os indivíduos, toda a sociedade está exposta ao bacilo da hanseníase e o desenvolvimento da doença depende da resposta imunológica de cada indivíduo, inclusive as classes mais favorecidas economicamente, embora a literatura diga que 90% da população têm defesa natural contra a hanseníase.

Doença incapacitante

A hanseníase é uma doença incapacitante por acometer os nervos periféricos lenta e gradualmente. Sua transmissão principal se dá de homem doente para homem saudável.

A população precisa urgentemente de informação sobre os sinais e sintomas da hanseníase, que não é uma doença de fácil diagnóstico e os exames existentes são capazes de detectar a bactéria em apenas 50% dos casos. Os outros 50% apresentam sinais e sintomas que dependem de treinamento profissional para serem diagnosticados e tratados a fim de evitar incapacidades como perda de força das mãos, pés, cegueira etc. Os sintomas podem se arrastar por anos sem diagnóstico na rede de atenção à saúde, exceto quando incapacitam pacientes.

Preconceito

“Muito pouco se fala de hanseníase na mídia, e até mesmo dentre os profissionais de saúde, criando ideia que a doença não existe mais em nossa sociedade. As pessoas não aprenderam sobre hanseníase nas escolas, ficando com um conceito jocoso e pecaminoso; ou seja, um preconceito”, diz o presidente da SBH.

Há alguns meses, no norte do país, a SBH solicitou espaço em uma universidade federal para promover treinamento para profissionais de saúde e a reitoria questionou como seria feita a esterilização da sala tendo em vista que pacientes seriam avaliados no local.

Na região de Ribeirão Preto, uma professora solicitou à Secretaria Municipal de Saúde documento para excluir da escola uma criança diagnosticada com hanseníase. Apesar das orientações aos professores, a escola reagiu novamente contra o segundo aluno diagnosticado com hanseníase.

Outro exemplo muito frequente ocorre nas regiões das antigas colônias e preventórios de hanseníase, usados como locais de exclusão para os doentes antes da década de 1970. Até hoje a população que convive ao redor dessas unidades enaltece o preconceito para com os moradores das unidades, mesmo estando todos já tratados e apenas vivendo lá pela manutenção da exclusão que a sociedade impôs.

Cipriani Frade diz que “para agravar tal situação, escolas de saúde têm diminuído significativamente o tempo dedicado ao ensino da hanseníase, formando médicos e enfermeiros despreparados e inseguros para fazer diagnóstico”.

Ocultação de dados

Em uma ação pontual de pesquisa, juntamente com a Universidade Federal do Pará (UFPA), na Ilha de Mosqueiro (Belém), cerca de 1.000 crianças foram avaliadas e 110 casos novos diagnosticados, sendo “alarmantes” 27 já com algum grau de incapacidade instalado, segundo a opinião da SBH.

A SBH denunciou a coordenação do estado do Pará que, após diagnóstico, notificação e tratamento dessas crianças, propôs reavaliar os mesmos casos, o que não ocorreu por completo até o momento, dizendo não encontrar todos os domicílios e notificando apenas 13 casos (40%). Assim, a Secretaria Estadual de Saúde do Pará “desdiagnosticou” 81% dos casos avaliados em crianças que teriam a chance de serem assistidas por profissionais e receberem o tratamento precocemente.

› FONTE: Texto e Cia Comunicação

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