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Voluntários do governo para a Copa têm até 95 anos

Publicado em 09/06/2014 Editoria: Geral Comente!


Voluntários conhecem as instalações do Itaquerão, em SP. Governo gasta R$ 30 milhões com voluntariado em 2014 - Paulinho Menezes

Voluntários conhecem as instalações do Itaquerão, em SP. Governo gasta R$ 30 milhões com voluntariado em 2014 - Paulinho Menezes

Dos 15 mil selecionados pelo Ministério do Esporte para atender o público, quase 300 passaram dos 70 anos. Especialista em seguros vê risco para idosos. Gastos com voluntariado chegam a R$ 30 milhões.

Apesar do questionamento na Justiça brasileira de que o trabalho voluntário da Fifa estaria desrespeitando leis federais, direitos fundamentais e de proteção ao trabalhador, 297 inscritos no Programa Brasil Voluntário, do Ministério do Esporte (ME), têm idade para ter comparecido à derrota mais dolorosa do futebol brasileiro: o famoso “maracanazo”, quando a seleção brasileira perdeu para a uruguaia na final do Mundial de 1950.

Nascidos entre 1920 e 1944, eles se juntam a outros milhares de voluntários que trabalharão de graça na competição da Fifa a partir da próxima quinta-feira (12), quando o Brasil sediará, pela segunda vez, a Copa do Mundo. Do romantismo dos anos 50, pouca coisa restou: a Fifa espera arrecadar R$ 10 bilhões com a realização do megaevento no país. Ou seja, jogadores e cartolas lucram alto, exceto os voluntários.

Os dados sobre os idosos constam da tabela fornecida pelo Ministério do Esporte no edital de licitação para contratar seguro para acidente pessoal destinado aos 15.460 voluntários. O plano de cobertura é para todos os credenciados, entre 18 a 95 anos, dos dias 2 de junho a 14 de julho, 24h por dia. Em caso de morte ou invalidez acidental, a indenização será de R$ 100 mil por vítima. O documento foi obtido com exclusividade pelo Congresso em Foco.

Em campo

Segundo a lista, há 16 nonagenários (90 a 94 anos), 53 octogenários (80 a 89) e 228 pessoas na casa dos 70 anos – todas dispostas a deixar de lado, por alguns dias, a aposentadoria. Enquanto a bolar rolar em campo, cumprirão jornadas diárias de quatro horas por, no mínimo, sete dias seguidos ou intercalados, e sem qualquer remuneração. Em troca apenas de uniforme, alimentação e transporte.

No programa de voluntariado da Fifa, 2.750 pessoas acima de 60 anos se inscreveram, mas a entidade não divulgou quantas nessa faixa etária foram recrutadas para trabalhar efetivamente na Copa. Sabe-se apenas que 15 mil foram selecionadas pela entidade.

Tarefas divididas

Ao contrário dos voluntários selecionados pela Fifa – que atenderão as arenas, os centros de treinamento de seleções e os campos oficiais –, os escolhidos pelo Ministério do Esporte atuarão em pontos de mobilidade (estações de metrô e ônibus), aeroportos, eventos de exibição pública, áreas de fluxo (shoppings e pontos turísticos), entorno dos estádios e centros de mídia.

Tudo bem definido: enquanto aqueles sob a responsabilidade do Comitê Organizador Local (COL) atendem os jogadores e a “família Fifa”, os voluntários escalados pelo ministro Aldo Rebelo darão suporte aos torcedores, à imprensa, aos turistas e ao público em geral.

Até o fechamento desta reportagem, o Ministério do Esporte não respondeu em que cidades nem quais funções os 297 idosos selecionados pelo Programa Brasil Voluntário exercerão durante o Mundial.

De acordo com o site Contas Abertas, apesar de a Fifa ter conseguido o recorde de 152 mil inscritos como voluntários, o governo federal deve gastar R$ 30 milhões com o seu programa de voluntariado em 2014. “O valor corresponde à dotação atual do plano de implementação do programa de voluntariado da Copa do Mundo Fifa 2014, coordenada pelo ME”.

Risco maior

Por se tratar da terceira idade, o cuidado com a segurança e o bem-estar desse grupo em particular deve ser redobrado. Especialmente quando há expectativa de protestos violentos nas ruas. Como os voluntários do governo são esperados para atuar em locais públicos e abertos, é de se esperar que os idosos possam ficar mais desprotegidos do que os voluntários do COL/Fifa.

Para o especialista em seguros Sérgio Henrique Magalhães, que participou da licitação do Ministério do Esporte, “os idosos requerem cuidados especiais”. Ele lembra o incidente ocorrido há poucos dias na Arena das Dunas (RN) em que várias pessoas passaram mal por causa do calor. “Será que os idosos terão alimentação e hidratação diferenciada?”

A preocupação também é maior em cidades-sedes conhecidas pelas elevadas temperaturas, como Cuiabá, Manaus, Recife e Fortaleza. Além de Brasília, que costuma apresentar baixa umidade do ar nos meses de junho e julho.

Sérgio ressalta ainda que, se um idoso de idade avançada tropeçar e quebrar o fêmur, por exemplo, ele poderá ficar inválido. O que certamente não aconteceria com alguém bem mais novo. “Quanto maior a idade, maior o risco”, conclui.

Segundo o edital lançado pelo ministério, se por algum acidente pessoal o segurado morrer ou sofrer lesão física que cause invalidez permanente total ou parcial e torne necessário tratamento médico, a indenização será de R$ 100 mil.

Fiscalização

O advogado Claus Nogueira Aragão, especializado em Direito do Trabalho e do Desporto, afirma que, “para começar, qualquer relação de trabalho voluntário com entidade privada com finalidade lucrativa – no caso a Fifa – viola todas as normas de trabalho no Brasil”.

Questionado se o Estatuto do Idoso corre o risco de ser desrespeitado durante a Copa com tantos voluntários na terceira idade, Claus destaca a importância da fiscalização por parte dos órgãos competentes. “Se for constatado qualquer abuso, se o trabalho for inadequado ou degradante e comprometer a saúde do idoso, a Fifa deverá ser denunciada e acionada na Justiça”, afirma.

 

› FONTE: Congresso em Foco

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