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A casa rosa da General Bittencourt que transformou vidas

Publicado em 17/08/2015 Editoria: Florianópolis Comente!


Albergue Municipal/Foto:Petra Mafalda

Albergue Municipal/Foto:Petra Mafalda

1º Albergue Municipal completa um ano com boas histórias para contar

João, Baiano, Adriano e Fernando não nasceram na mesma cidade e não possuem quase nada em comum, não fosse por um fator: eles conseguiram dar uma reviravolta em suas vidas depois de perder a família, o emprego e até a esperança. Os quatro representam os 968 usuários atendidos pelo 1º Albergue Municipal de Florianópolis, que completa um ano de funcionamento neste dia 19 de agosto.

Para quem não vive a realidade daquelas pessoas que estão em situação de rua, fica até difícil imaginar como uma simples casa rosa de 266 metros quadrados, com 80 leitos, sendo 50 para pernoite, poderia fazer tanta diferença na vida de alguém. Se uma única pessoa abrigada da chuva, do vento, do frio, da fome e da insegurança dos riscos noturnos já teria valido a pena a inauguração do albergue, imagine 968.

Neste primeiro ano de funcionamento, o local (onde também funciona uma casa de abrigo no segundo piso) ofereceu 9.654 pernoites, já que uma mesma pessoa pode dormir no albergue mais de uma vez. Dos 968 atendidos, 855 são homens e 113 mulheres.

"Em apenas um ano, o albergue já mostrou que fez a diferença na vida de muitas pessoas, e para nós cada uma retirada da rua representa uma vitória", afirmou o secretário de Assistência Social Dejair de Oliveira Junior.

São pessoas que por um motivo ou outro, seja uma desilusão, depressão ou dependência química, deixaram suas cidades e suas casas e sem alternativa passaram a dormir na rua, debaixo de marquises, sem esperança nenhuma de retomar a vida "comum". Neste ano, 64% das pessoas atendidas vieram de outros Estados, 27% são de Santa Catarina e 9% de outros países.

"Aqui, não temos preconceito nenhum, é uma ação humanitária, independente de onde ela venha, se tem ou não documentos de identificação, atendemos a todos dentro de nossas possibilidades", explicou o coordenador da unidade, César Cruz.

Em um ano, nenhuma depredação, nenhuma ocorrência

Se numa casa de família por vezes é difícil conter os ânimos e contornar as diferenças entre seus moradores, imagine numa casa onde ninguém se conhece e todos estão em situações complicadas, sem emprego, sem perspectivas e alguns tentando se livrar das drogas ou da bebida.

Mesmo diante desta realidade, na casa rosa da General Bittencourt o chefe da "família" é durão, um pai compreensivo, senta para conversar, ajuda no que pode, mas não admite falta de respeito.

"Temos regras claras e não abrimos mão delas. Aqui tem hora para deitar, para acordar, para fazer as refeições, e todos antes de sair, mesmo que seja às 6 horas, devem deixar suas camas arrumadas. Neste primeiro ano, nada foi quebrado, está tudo como foi entregue e não tivemos brigas", garantiu César, que é visto pelos usuários como um paizão ou um irmão mais velho.

Como uma cama, uma roupa limpa e uma refeição transformaram vidas

Quem tem conforto em casa pode não perceber como coisas simples e de pouco investimento podem fazer tão bem ao próximo. No albergue, foi oferecendo um banho quente, uma cama para dormir, uma refeição e uma pessoa para conversar que muitos usuários deixaram as ruas e hoje estão voltando para o convívio familiar.

Das muitas histórias acumuladas pelo albergue em apenas um ano, o coordenador do local lembra-se do Baiano, do João, do Adriano e do Fernando.

Baiano foi assaltado assim que desembarcou em Florianópolis, vindo de Salvador. Sem ter conhecidos na Capital e nenhum dinheiro, passou uma noite na rua. Foi encaminhado ao albergue e de lá conseguiu emprego, juntou umas economias e voltou para casa na Bahia.

João, com mais de dez anos de experiência na construção civil, perdeu o rumo, veio para Florianópolis e sem emprego ou renda acabou dormindo na rua. Encaminhado para o albergue, lá ele conseguiu encaminhar seus documentos, fez uma carteira de trabalho nova e conseguiu um trabalho em uma construtora multinacional. Hoje, trabalha em uma importante obra de revitalização da cidade.

Adriano sofria com dependência química, passou sete meses em uma clínica de reabilitação e, quando finalmente recebeu alta, não tinha mais para onde ir: os laços com a família já tinham sido rompidos. Foi no albergue que recomeçou, fez cursos profissionalizantes e hoje sai da casa de abrigo às 6 horas para trabalhar, estuda à noite e só retorna às 23 horas. O sonho é alugar um imóvel para morar com a filha de 16 anos.

Fernando também passou noites na rua. Muito inteligente, só precisava de um empurrãozinho para mostrar o que sabe. Ele pernoitou no albergue, hoje está na casa de apoio e estuda para passar no vestibular de ciência da computação da UFSC. No Pronatec, sua nota mais baixa foi 9.

Preconceito

Nenhum dos entrevistados pode ser identificado porque, como estão na casa de apoio, apesar da força de vontade, temem perder o emprego e as novas relações sociais caso sejam reconhecidos como ex-moradores de rua. 

› FONTE: Secretaria Municipal de Comunicação de Florianópolis

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