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Judicialização da saúde é tema de debate em Florianópolis

Publicado em 30/08/2017 Editoria: Saúde Comente!


A judicialização da saúde será o tema do “2º TCE em Debate”, que o Tribunal de Contas do Estado de Santa Catarina realizará no dia 19 de setembro, na sua sede, em Florianópolis. O evento, que ocorrerá das 14 às 17 horas, é voltado para servidores do TCE/SC, agentes públicos, conselheiros municipais e estaduais e representantes da sociedade civil. As inscrições estão abertas no Portal da Instituição (www.tce.sc.gov.br), na área de destaques da página principal, no banner do evento.

Embora as normas constitucionais e infraconstitucionais brasileiras reconheçam o acesso à saúde como sendo um direito de todos e dever do Estado assegurar o atendimento igualitário, somente no ano passado, o governo catarinense gastou cerca de R$ 155 milhões para atender a ações individuais na Justiça, conforme informação da Procuradoria Geral do Estado.

“O assunto é de extrema importância, diante do aumento crescente das decisões judiciais que obrigam o Estado a fornecer remédios e tratamentos não padronizados pelo Sistema Único de Saúde (SUS)”, enfatiza o presidente do TCE/SC, conselheiro Dado Cherem, ao informar que a Diretoria de Atividades Especiais do Tribunal fará auditoria operacional na Secretaria Estadual da Saúde para analisar a judicialização da saúde. De acordo com a programação de fiscalização, a auditoria está prevista para ser executada na segunda quinzena de novembro. A ideia é levantar dados e detectar ações que mereçam aprimoramento.

Programação

Após a abertura do evento, às 14 horas, ocorrerá a palestra da especialista em Direito Sanitário pela Universidade de São Paulo (USP), advogada Lenir Santos. Autora de diversos livros, entre eles o que tem o título “Judicialização da Saúde no Brasil”, Lenir foi secretária de Gestão Estratégica e Participativa do Ministério da Saúde e criadora do Instituto de Direito Sanitário Aplicado, entidade que propõe formas de aprimorar o desempenho de instituições de saúde públicas e privadas.

Segundo dados do Ministério da Saúde, divulgados em seu Portal na Internet, em sete anos, foram gastos R$ 4,4 bilhões no atendimento das determinações judiciais para a compra de medicamentos, equipamentos, dietas, suplementos alimentares, gastos com cirurgias, internações e depósitos judiciais, um incremento de mais de 1.000% entre 2010 e 2016. Somente no ano passado, a cifra chegou a R$ 1,2 bilhão, e nos meses de janeiro e fevereiro de 2017, a R$ 219,4 milhões.

A programação ainda contempla o debate sobre o assunto pelo desembargador do Tribunal de Justiça de Santa Catarina Ronei Danielli — autor do livro “A Judicialização da Saúde no Brasil: Viés Individualista ao Patamar do Bem Coletivo”, publicado em 2017 — e pelo procurador de Justiça do Paraná Marco Antônio Teixeira, coordenador do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção à Saúde Pública (CAOP Saúde). A mediação será feita pelo jornalista Paulo Alceu.

Em seu livro, o desembargador Danielli procurou traçar um diagnóstico da situação da judicialização da saúde e debater acerca dos eventuais limites da atuação judicial na matéria. Nas considerações finais, destacou que a solução passa primeiro pela compreensão da complexidade do tema e pela busca de um novo modelo de atuação legislativa, executiva e judiciária. Em sua opinião, tal atuação dever estar pautada pela convicção de tratar a saúde como um bem coletivo por excelência e exigir a ampliação do debate, a democratização e a universalização do acesso a esse direito fundamental, passando, necessariamente, pela participação popular.

A coordenação do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Proteção à Saúde Pública do Paraná emitiu, neste ano, nota técnica com as linhas gerais de atuação do Ministério Público na tutela dos interesses individuais indisponíveis relacionados à assistência farmacêutica, especialmente quanto à instrução de procedimentos que antecedem o ajuizamento das ações e à elaboração da petição inicial.

Auditoria TCU

Recentemente, o Tribunal de Contas da União divulgou o resultado de auditoria que identificou o perfil, o volume e o impacto das ações judiciais na área da saúde. O estudo abrangeu a União e secretarias de saúde e órgãos do Judiciário de alguns estados — entre eles, Santa Catarina — e municípios — entre eles, Florianópolis e Joinville. O trabalho também apurou a atuação do Ministério da Saúde e de outros órgãos dos três poderes para reduzirem os efeitos negativos da judicialização nos orçamentos e no acesso dos usuários à assistência à saúde.

O relatório do TCU mostrou que, em 2013, Santa Catarina gastou R$ 128.681.490,41 com a judicialização e teve R$ 1.765.278,37 bloqueados/sequestrados judicialmente — a maior parte na conta única do Estado.

Já em 2014, as despesas subiram para R$ 159.957.764,20 e os valores bloqueados/sequestrados reduziram para R$ 829.783,36. De acordo com o relator do processo (TC 009.253/2015-7), ministro Bruno Dantas, os bloqueios e sequestros judiciais impactam a organização das finanças públicas estaduais por inviabilizarem o manejo dos recursos públicos bloqueados. Segundo a auditoria, a maioria dos recursos foi destinada para o pagamento de medicamentos — R$ 119.741.976,30, em 2013, e R$ 147.239.262,82, no ano seguinte. “A maior parte dos gastos com medicamentos judicializados dizem respeito a medicamentos que não fazem para das relações do SUS”, aponta o relatório.

Foram R$ 65.334.663,43, em 2013, e R$ 97.161.622,73, em 2014, conforme dados informados pela Secretaria de Estado da Saúde. “Os medicamentos que não pertencem às relações do SUS representaram mais de 50% do total gasto com medicamentos judicializados em 2013; esse índice foi superior a 65% em 2014”, registra o estudo.

A íntegra do Acórdão 1787/2017 do Tribunal de Contas da União está disponível no Portal da instituição.

TCE em Debate

Criado este ano, o “TCE em Debate” busca provocar a troca de ideias sobre temas polêmicos e promover um processo de influência recíproca em favor do exercício da cidadania, da operação do controle social e da elevação da qualidade do controle externo e dos resultados da gestão pública. Na primeira edição, realizada em junho, foram discutidos os temas Parcerias Público-Privadas (PPP) e Procedimentos de Manifestação de Interesse (PMI).

A capacitação tem a coordenação da Presidência do Tribunal catarinense e do Instituto de Contas (Icon) — órgão responsável por promover a política de educação corporativa — e a parceria da Associação Catarinense de Imprensa (ACI). A iniciativa integra o Programa de Interação com a Sociedade e será desenvolvida no âmbito da ação Cidadania Ativa, cujo objetivo é ampliar as oportunidades de integração entre os controles externo, exercido pelo TCE/SC, e social, realizado individual ou coletivamente, por cidadãos.

› FONTE: Assessoria de Comunicação do TCE/SC

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